terça-feira, 22 de abril de 2008

Mãos nossas

De olhos abertos se vê a verdade das coisas escondidas. Abrir os olhos é duro como dói o arrependimento de tanto tempo, tanta vida cerrada. Quem toca os teus olhos melhor do que tu? Sabes sentindo quando eles estão prontos a abrir, a deixar entrar o dia; e sabes quando chega a noite que, impondo-se, comanda. De olhos fechados não há mãos que se dão, há pedaços de carne atados cheios de dedos. Pedaços de carne juntos, formam um único pedaço. De noite, com os olhos abertos a escuridão por vezes cerra a visão, fazendo ausentar-se de qualquer feixe luz. A tranquilidade interior e a confiança em nós próprios, faz-nos cerrar os olhos, como que aceitando o poder da noite sabendo que não poderá entrar neles algum rasgo de dia por breves horas. Juntam-se então os pedaços de carne análogos a um momento, a um pedaço de tempo uno e singular. Os olhos reabrem-se instantes depois, instantes que vencem as horas que passaram no mundo exterior. Reabrem-se com o feixe de luz que permite que não haja mais um pedaço, o feixe de luz manifesta-se como uma faca que corta o pedaço. Vê-se a verdade, o pedaço de carne não era afinal um pedaço mas sim pedaços, pedaços querendo voltar a ser pedaço, pedaços que desejam que a noite os deixem voltar a ser pedaço, pedaços que se perguntam a si mesmos porque terá que existir coisa tal como abrir os olhos, coisa essa que não deixa ser pedaço.
P e J

1 comentário:

Anónimo disse...

mãos essas...